O facto de serem a editora do Partido Comunista Português só por si distingue as Edições «Avante!» da generalidade das editoras portuguesas. É que esse facto determina que os seus objectivos e a sua actividade editorial estejam inseparavelmente ligados à história e à luta travada pelo PCP pela liberdade, pela democracia e pelo socialismo.
Foi assim que Francisco Melo iniciou a sua intervenção na iniciativa realizada no dia 4 de Junho, na Casa do Alentejo, em Lisboa, com o título As Edições «Avante!» ao serviço da democracia e do progresso social. A iniciativa, que tinha como objectivos destacar o contributo das Edições «Avante!» para a construção do Partido, na luta antifascista, na revolução portuguesa e na resistência à contra-revolução, tendo em vista a formação política e ideológica, a teoria e a prática revolucionárias, e por outro lado identificar perspectivas de futuro, num contexto político, cultural, editorial, técnico, diferenciado, contou com uma sala cheia para um debate sobre a situação do livro.
é de salientar que as Edições «Avante!», porque editora de um partido de massas e ao serviço dessas mesmas massas, vieram revolucionar o mercado tradicional do livro, quer quanto ao público quer quanto aos circuitos de distribuição e venda. Na verdade, os nossos leitores ultrapassaram o reduzido âmbito da pequena burguesia com acesso à cultura e saíram das estantes das livrarias para a banca de rua e dos Centros de Trabalho, para a porta do comício e de outras realizações partidárias (cursos, encontros, conferências, congressos), para o local de trabalho e para a barraca de feira e de festa populares; subiram ao povo!
Na intervenção de abertura da iniciativa, Francisco Melo, além de introduzir a própria sessão, fez uma breve apresentação da história das Edições «Avante!», incluindo na clandestinidade, as primeiras edições do Programa e dos Estatutos do PCP, os objectivos que desde início nortearam a sua actividade: «mobilizar para a acção, formar revolucionários, combater a reacção, defender as conquistas da revolução». Por isso, ao longo dos anos, se avançou com a edição das obras dos clássicos do marxismo-leninismo e de obras de divulgação deste, a edição de materiais referentes à história do nosso Partido, a publicação de materiais que transmitissem por diversas formas as posições, a orientação e a actividade do Partido na defesa intransigente dos interesses dos trabalhadores e das conquistas da Revolução, a edição de obras que divulgassem as propostas e os objectivos que o Partido propunha ao povo português na sua luta pela liberdade, pela democracia e pela independência nacional, a edição de obras que combatessem a ideologia do imperialismo e do capitalismo, a publicação de obras que transmitissem a experiência acumulada pelo movimento comunista e operário internacional e das realizações dos países socialistas.
Escusado será lembrar que, num Partido com filosofia no projecto explicitada e militância no sentimento esclarecida, entre estudo, leitura, e trabalho político, subsiste uma unidade dialéctica.
José Barata-Moura, na sua alocução, realçou essa relação existente entre leitura e trabalho político, e o papel do estudo, «ajustado aos condicionalismos da conjuntura, à prioridade dos afazeres em cada sector e nível de responsabilidade, aos diferentes momentos da vida», condição para poder conhecer e transformar a realidade existente. Para esse trabalho transformador torna-se imprescindível a leitura e o estudo, e o trabalho político que esses permitem, de autores como Marx, Engels, Lénine, ou Álvaro Cunhal, não por serem «nomes com autoridade ventilada», mas porque «compreenderam em profundidade os próprios tabuleiros em que intervinham: no seu embasamento estruturante, na sua dinâmica de desenvolvimento, na necessária organização social das forças em condições de promover revolucionamentos, no leque de possibilidades reais que cada existência ao fronteiro pro-jecta». No fundo, «forjaram ferramentas, no que escreveram (e fizeram) consubstanciadas, que nos permitem ler e estudar, não apenas o mundo deles (que já lá vai), mas compreender e transformar as realidades (entretanto, modificadas) de um tempo que é o nosso».
No segundo painel da iniciativa, as intervenções centraram-se em aspectos em torno da difusão dos livros das Edições «Avante!». Rui Mota apresentou um diagnóstico da situação actual do livro em Portugal, marcado pela concentração da propriedade, tanto na edição como na distribuição, e aumentos nos custos da produção, traços que se reflectem de várias formas nos leitores. Por sua vez, Sónia Ribeiro abordou aspectos particulares da actividade comercial das Edições «Avante!» e dos seus condicionalismos: das dificuldades na distribuição nas livrarias às potencialidades existentes noutros espaços, sejam os partidários, sejam as feiras do livro, bibliotecas, escolas, colectividades, para além das possibilidades que a internet tem proporcionado. Leonel Silva trouxe o exemplo concreto do livro 100 Anos de Luta ao Serviço do Povo e da Pátria pela Democracia e o Socialismo para demonstrar as inúmeras possibilidades existentes de alargamento e difusão das obras das Edições «Avante!», tendo sido realizadas dezenas de sessões por todo o País, com os mais diversos modelos e entidades envolvidas.
Tal não significa que o mesmo não suceda com outros livros, com outros temas, que abarque outras áreas. Pelo contrário. O que mostra é que compensa saber extrair o potencial de cada publicação, saber dirigir o nosso foco, saber delinear o público-alvo, assim como potenciais interessados em colaborar connosco na divulgação e difusão de cada obra – um trabalho exigente, mas sem dúvida compensador.
O debate que se seguiu trouxe vários contributos e preocupações, sugestões de obras a editar e medidas a tomar para a sua divulgação. Como um dos traços mais marcantes da própria iniciativa fica a disponibilidade da editora para falar assim, directamente, com os seus leitores, discutir com eles aspectos da sua linha editorial e da sua difusão. Algo que confirma, aliás, as características únicas das Edições «Avante!».
A encerrar a sessão, interveio Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, destacando o papel das Edições «Avante!» na luta mais alargada pela democracia cultural, indissociável das outras vertentes da democracia – política, económica, social –, e parte integrante do Programa do PCP de Democracia Avançada, com os Valores de Abril no Futuro de Portugal. É, pois, justo assinalar e valorizar, nesta iniciativa, o destacado papel que as Edições «Avante!» tiveram ao longo de muitos anos e continuam a ter na actualidade no campo da produção e divulgação do livro: um livro, insista-se, com uma identidade própria que, grosso modo, se pode caracterizar pelo facto de ser um livro desalinhado com o sistema reinante de mercantilização dos bens culturais que faz dele um bem de consumo ou de luxo ao serviço do aumento do lucro e da concentração da riqueza das multinacionais da indústria livreira; um livro desalinhado com os valores da ideologia dominante, aberto a outras perspectivas e realidades alternativas. |