- Obra Poética de Manuel Gusmão
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- Contra Todas as Evidências – Poemas Reunidos II
Contra Todas as Evidências – Poemas Reunidos II
Manuel Gusmão
Em 1997, vi-me metido a escrever dois textos que vieram a ser Os Dias Levantados (libreto de António Pinho Vargas) e Teatros do Tempo.
O 25 de Abril é um dia e são dias, meses, anos. É daquelas datas que se constelam, que estão antes de hoje, que hoje ecoam ainda, e que tremeluzirão no depois de hoje como a memória de uma outra possibilidade no conflito dos possíveis reais. Porque foi um processo de irrupção de imensas vozes e corpos no teatro da história tal como a fazemos. Porque foi um processo de transformação do nosso espaço-tempo e das nossas formas de habitar. Porque foi a liberdade e a democracia como emancipação. Porque foi a política como poiesis. E por aí, através do som e da fúria da vida histórica, passa um sentido que julgamos vislumbrar, um sentido possível para a frase «rico em méritos, é contudo poeticamente que o homem habita sobre esta terra» que vem em Hölderlin.
Tratava-se assim de recordar um passado num instante de perigo e de configurar algumas obsessões de poética: A coralidade; o tempo fora dos eixos; os tempos que nascem do tempo; a população deste mundo de teatro. De Teatros do Tempo (1.ª edição, 2001) a Os Dias Levantados (1.ª versão, 1998 e a 1.ª edição em 2002) a Migrações do Fogo (1.ª edição, 2004), o tempo constela-se; e o leitor poderá ver-me a braços com a temporalidade e com a tentativa de repetir (diferente embora) a origem.